Da infância encurtada à passagem pela Romênia: a história de Eduardo Brock, zagueiro do Cruzeiro

por Gabriel Duarte e Guilherme Frossard — de Belo Horizonte

20/03/2021 03h27  

Jogador foi titular nos dois últimos jogos do Cruzeiro e chega como a opção para a zaga em 2021

Eduardo Brock não tem a história do jogador que enfrenta grandes dificuldades familiares antes de concretizar o sonho de atuar no futebol. Mas traçou uma trajetória marcada por desafios pessoais desde a infância. Foi com nove anos apenas que o “guri” de Arroio do Meio deixou a cidade para buscar o sonho no Grêmio. Hoje, com 29 anos, o zagueiro absorve todo o amadurecimento das dificuldades que teve na carreira para chegar ao Cruzeiro com o objetivo de construir uma história vitoriosa no clube.

Em entrevista ao ge, o zagueiro cruzeirense repassou sua história de vida até chegar ao clube mineiro, o qual quer levar novamente à elite nacional.

- Depois que eu conheci toda a estrutura que a Toca tem, você passa a entender como essa máquina precisa girar para isso funcionar. É muita estrutura. O jogador que está aqui tem que valorizar muito isso. Sou um cara muito consciente disso, e vou me matar muito pra que isso aí aconteça, pra que a gente possa colocar o Cruzeiro na Série A - afirma o jogador.

Do interior gaúcho, o zagueiro começou o sonho de ser jogador com nove anos no Grêmio. A saudade de casa e da família, em determinado momento, pesou. Brock pensou em desistir. Mas foi demovido da ideia.


- Saí de casa com 9 anos de idade, fui já pro Grêmio. Foi quando abriram as categorias 91 do Grêmio, já ingressei. Fiquei até o ano de 2004, por aí. E aí eu decidi que não ia mais jogar futebol. Como eu tinha começado muito cedo, aquilo foi algo que pesou muito depois, não ter tido infância. Só que a vida escreve coisas certas por linhas tortas. Nesse momento que eu saí, venho pra casa. Pude conviver um pouco mais em casa, principalmente com meu avô, que morava em casa, que eu era muito apegado a ele.

Mas da saudade do avô materno, Lauro Schroder, nasceu a força para retomar o sonho de ser jogador. Foi num momento triste da vida da família que Brock decidiu voltar a atuar.

- Acabei incentivado por um amigo da minha cidade, o Diego. O Mauro Galvão (ex-jogador) fez uma escolinha. Fui lá, não era nem no intuito de jogar, mas acabou acontecendo. Nesse ano, ainda juvenil, a gente fez um grande ano, e acabei voltando pro Grêmio no final do campeonato, já com contrato profissional, porque eu já estava com 16 anos. No dia do jogo do Grêmio, que seria uma semifinal, um dia antes do jogo, ele acaba falecendo.

Mas Eduardo Brock sonhava também em chegar à Europa. Tinha uma proposta em mãos para renovar com o Grêmio por mais cinco temporadas, mas optou por tentar a vida no Velho Continente.

- Tinha uma proposta de cinco anos de contrato no Grêmio. Eu tinha um empresário, que era italiano, e eu tinha uma situação para poder sair do país e ir pra Itália. Acabamos não renovando com o Grêmio, pra em janeiro eu ir pra Europa e começar um caminho na Itália. Acabou que deu tudo errado. Minha cidadania não saiu, fiquei sem trabalhar seis meses.

- Quando foi julho, eu acabo decidindo ir pra Europa, porque tinha uma proposta da Romênia. Chegando lá, fiz pré-temporada, fui pra Áustria, era titular... Depois, o diretor chegou em mim e perguntou do documento de direito de formação, que o Grêmio precisava mandar. O empresário ficou de mandar e não mandou – completa o jogador.

Nada deu certo. Surgiu, então, a oportunidade de Eduardo Brock jogar no futebol belga. Mas, novamente, outro entrave na carreira do então jovem jogador.

- Eles também não me pagaram salário. Eu fiquei lá trabalhando. Acabei ficando na Romênia três meses, e aí vou pra Bélgica. Era para ser um acordo simples entre clubes e entraram empresários, e aí também acontecem várias coisas que acabam não dando certo. Por interesses pessoais do treinador e por outra pessoa, acabou que se eu não rompesse com o empresário do Brasil eu não poderia ficar no clube. Eu decidi que não iria fazer isso. Foi um ano que eu saí de uma tranquilidade, que era o Grêmio, com contrato bom, com perspectiva boa, eu saí pra desempregado, para depois seis meses passando dificuldade em clube, recebendo 400 euros.

Brock, então, voltou ao Brasil e teve de retomar o caminho então construído com o Grêmio. Passou por Canoas, Novo Hamburgo, Juventude, Aimoré até chegar ao Brasil de Pelotas, no qual construiu uma história de três temporadas.

As portas, então, se abriram para jogar no Paraná, pelo qual subiu para a Série A do Brasileiro. Ainda passou por Goiás e Ceará até chegar ao Cruzeiro. Uma carreira que começou muito bem, teve entraves no sonho de atuar na Europa, e foi recomeçada no retorno ao Brasil. Ação buscada pelo Cruzeiro, neste momento: o recomeço.

- É bem parecido, porque o principal baque realmente é quando você está muito alto, bem, e acaba vendo uma realidade que tu não era acostumado. No primeiro soco, tu fica meio grogue, mas depois começa a entender onde tem que ir, o que tem que fazer. O último ano foi um ano de aprendizado para o clube também. De entender o que aconteceu extracampo, financeiro, e que tem que ver de outra forma o futebol. E a Série B é um campeonato diferente – avisou.

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